OS 20 ANOS DE ROLAND-GARROS
O dia de ontem lembrou a inédita conquista internacional do tênis brasileiro e o maior feito do esporte catarinense. Em 8 de junho de 1997, Gustavo Kuerten surpreendia o mundo ganhando pela primeira vez o torneio de Roland-Garros. Um título com o valor pessoal e familiar que contou com o desprendimento pessoal do atleta e sua familia e o apoio de poucos que acreditavam na sua capacidade, como o treinador Larry Passos, que lapidou a maior joia do esporte brasileiro. E eu, orgulhoso, estava lá.
Minha vida esportiva profissional foi alicerçada no futebol. Mas o tempo me levou ao tênis quando meu filho, Milton Alexandre, se aproximou das quadras, fruto da convivência com a família Kuerten (Aldo, Rafael e Guga) nos acampamentos do Lagoa Iate Clube, o que me “obrigou” a um inesperado investimento nos caros equipamentos (raquetes, bolas, máquina para encordoar raquetes, cordas tudo mais…) necessários para um principiante entusiasmado. Apesar de tudo isso, aquele movimento de olhar rápido pra lá e pra cá, em busca da bola, não me fascinava.
E AÍ...
Eu trabalhava na RBS com coluna no Diário Catarinense, apresentação do Jornal do Almoço na TV e narrações na Rádio CBN/Diário.
A seleção Brasileira de Futebol, que já acompanhei ao vivo em 180 jogos, faria um amistoso em Oslo (Noruega) antes de disputar o Torneio da França com jogos em Lyon e Paris. Decidido a não perder a excursão, propus minha liberação oferecendo em troca boletins diários para a rádio. A decisão da empresa foi priorizar as informações via rádio Gaúcha. Decidi, então, gozar férias para realizar meu desejo. E lá fui eu atrás do futebol. Nem lembrava do tênis.
Depois de Oslo e já em Lyon, com o Guga atropelando todos os adversários em Paris, fui procurado dois dias seguidos pelo Antônio Carlos Macedo, repórter da Rádio Gaúcha com a informação de que o Claiton Selistre, diretor da RBS, queria falar comigo. Resisti aos primeiros chamados, mas acabei cedendo. Afinal, chefe é chefe e mesmo de férias o bom senso apontava a necessidade de atende-lo. Foi o que fiz. O que desejava o Claiton?
Me explicar sobre Roland-Garros e determinar:
– JB, vai pra Paris, aluga um celular, carro e corre atrás do Guga e acompanha a final. Gasta o que for preciso.
DESVIO DE PERCURSO
Com uma “ordem” dessa, mesmo em férias, não havia outro destino à não ser Paris, alcançado a bordo de um GVT – trem de alta velocidade – 300 km/h – nunca antes imaginado por um riosulense nascido na Barra do Trombudo.
Mas como cumprir as ordens do chefe? Primeiro um contato com o amigo Valmor Letzov, com quem trabalhei na Nereu Ramos, de Blumenau e até hoje morador de Paris.
Logo na chegada, o desencontro na imensidão da Estação Paris Gare de Lyon, e a primeira improvisação: táxi para o Hotel Mont Blanc, – onde estava hospedado Gustavo Kuerten e seu staff. Era o meu ponto de partida. E assim foi.
Ao chegar no hotel a primeira pessoa que encontrei foi o Vilmar Pacheco, o inesquecível Pitanga, que enquanto Guga atropelava nas quadras, ele atropelava na arquibancada.
–Preciso alugar um telefone celular com urgência, afirmei.
– Fala com o Zé Neto, ele está aqui e pode te emprestar o dele, respondeu Pitanga.
O Zé Neto (José Córdova Neto) é um tenista amigo do Guga – que jogava com meu filho no LIC – e morava em Compenhage (Dinamarca). Assistiu aos primeiros jogos e, considerado pé quente, foi convidado a permanecer em Paris.
Logo ao primeiro contato, Neto foi solícito e me entregou o aparelho.
– Quando chegar a conta a gente se acerta, disse ele.
A segunda e mais dura missão era conseguir a credencial para a grande final. Com a assessora de imprensa do Guga, Diana Gabani, foram duas incursões ao centro de imprensa, sem sucesso. Na terceira, a chefe de credenciamento – acho que imaginando eu não dispor do documento – me pediu a carteira da AIPS (International Sports Press Association). Eu tinha e tenho. Foi a chave para a vitória: estava credenciado.

Por uma deferência do Rafael Kuerten (irmão do Guga), meu deslocamento hotel/estádio Roland-Garros foi numa das vans da embaixada catarinense.
Lá chegando (Guga já estava nos vestiários) a primeira tarefa foi me descobrir no estádio. O que fiz me deslocando em busca do melhor sinal e dos espaços onde pudesse falar ao

telefone sem burlar a ordem de SILÊNCIO!, aplicada em todos os setores e passar informações para o Mário Motta que transmitia no estúdio da RBS ao lado do Gastão Diniz).
Numa das incursões pelo estádio encontrei e entrevistei o publicitário Roberto Costa, da AS Propague, que lá estava.
Surpreso com toda a movimentação e diante de um momento que jamais esperava e, muito menos, entendia, fui procurando cumprir minha missão, nas entrevistas, coletiva de imprensa e outras informações.
A CELEBRAÇÃO
Sacramentada a grande conquista, com a vitória de Guga sobre o espanhol Sergi Bruguera, o retorno para o hotel foi festivo. Lá, dona Alice, a mãe de Guga, me intimou a comparecer na festa da vitória no Hotel Ritz um cinco estrelas bem diferente do modesto Mont Blanc usado por Gustavo Kuerten.
Foi do mesmo hotel que, dois meses depois, saíram a princesa Diana e seu namorado Dodi Al-Fayed para o trágico acidente no túnel Pont d’Alma, onde ambos morreram.
Honrado com o momento profissional, voltei ao futebol dois dias depois, para ver o Brasil ganhar da Inglaterra (1×0) no Parc dos Princes, em Paris.
Coincidências da vida, ao receber a fatura das despesas com o telefone do Zé Neto, fui saber que ele era filho da Maria Cândida Goulart, uma amiga de infância na localidade onde nasci: Barra do Trombudo.
Hoje quando vejo tanta gente falar do grande e merecido feito de Gustavo Kuerten, sinto uma ponta de orgulho em ter sido o único jornalista catarinense, nessa grande conquista.
