A Copa que desconhecemos.

Em tempo de Copa do Mundo, tenho lido muitas informações de leigos sobre alguns assuntos, especialmente os que dizem respeito às coberturas de rádios e televisões. Como jornal não paga direitos, rádios e TVs enfrentam algumas dificuldades pelo altíssimo custo para cobrir o evento, especialmente quem se dispõe realizar uma cobertura mais abrangente.

Até a Copa passada, além dos direitos – cujo custo no Brasil oscilava por emissoras e suas regiões – quem desejasse transmitir ao vivo no estádio, tinha que desembolsar cerca de cinco mil dólares por pessoa na chamada posição de transmissão, limitada a três pessoas. Verdade que, além do espaço, a FIFA disponibilizava monitores com vários canais de informações, dispensando o trabalho dos repórteres em busca de escalações, substituições etc.

Nos estúdios no espaço denominado IBC a FIFA cobrava altíssimos preços por metro quadrado para rádios e televisões montarem suas bases e transmitirem no sistema off-tube, usando as imagens cedidas pela entidade. Em copas mais distantes, muitas rádios montavam seus estúdios em apartamento no hotel onde a equipe estava hospedada, de onde entravam “ao vivo” com as narrações. Aos poucos a FIFA foi apertando o cerco e dificultando o trabalho.

Na Copa de 1990, na Itália, participei desses trabalhos “off-tube” transmitindo e participando de alguns jogos pela Rádio Gaúcha no nosso ‘estúdio’ montado em Turim, como ilustra a foto abaixo onde estou (de costas) com o narrador Pedro Ernesto Denardin, o comentarista Lauro Quadros e o técnico de externas Francisco Paulo Bisogno, nosso anjo da guarda Chicão.

JBTelles(de costas), narrador Pedro Ernesto Denardin, comentarista Lauro Quadros e o técnico de externas Francisco Paulo Bisogno. 

No portalmakingof.com.br o jornalista Cleiton Selistre, que foi meu diretor e planejou e coordenou para a RBS coberturas multimídia nas Copas do Mundo de Futebol na Alemanha, Argentina, Espanha, México, Itália, Estados Unidos, França e Japão/Coréia, publica hoje interessante e explicativo texto sobre o tema. Peço licença ao mestre, para transcrever:

“Foi na Inglaterra, em 1966, que a FIFA descobriu que poderia ganhar dinheiro com jogos da copa em off tube – uma pequena cabine com monitor de TV e microfones para a rádios e tvs. A posição era cobrada, mas bem menos que o direito das chamadas posições de comentaristas – um espaço privilegiado com lugar para três profissionais no centro dos estádios. A partir daí os custos subiram tanto que muitas emissoras de rádio de pequeno porte deixaram de ir aos mundiais. Na Rússia, apenas 15 rádios brasileiras têm os direitos de transmissão e algumas delas fazem os jogos de seus estúdios, evitando despesas com hotéis, passagens e diárias. E aquelas que presenciam os jogos da seleção brasileira não podem, há muito tempo, colocar repórteres em volta do gramado. Só as TVs fazem isso porque pagam milhares de dólares para ouvirem um jogador de cada seleção na entrada do vestiário. No final da partida, os jogadores passam por um corredor até o ônibus e aí, se quiserem param para falar com os repórteres.

Por isso é cada vez mais difícil a atuação das rádios nas Copas. A própria TV, paga milhões de dólares e diante do grande volume de jogos também acaba transmitindo alguns off tube, porque é mais barato e viável operacionalmente. Nessas horas, às vezes, nem sempre elas sabem exatamente o que o juiz apitou ou quem fez o gol quando as equipes não são tão conhecidas. As imagens são geradas por um consórcio contratado pela FIFA e disponibilizadas igualmente para quem pagou.

Copa é business. Um espetáculo que vale ouro para a FIFA, caríssimo para quem transmite  e confortável para quem está em frente à tela.

Comercial

Os clientes que bancam as transmissões de TV têm uma grande exposição comercial. E todos torcem para que a seleção brasileira ganhe e siga até a final para justificar o investimento. Também há torcida para que jogadores que ganharam fortunas como garotos- propaganda justifiquem em campo o que receberam. É o caso de Neymar, de quem todos esperam uma grande atuação sempre. Tirando alguns jingles ufanistas, entre os comerciais produzidos pelos patrocinadores da Copa, há muita criatividade onde se destaca, por exemplo, o filme do garoto que pergunta o que é “fúlgido”. Grande direção e belas atuações.

Água fria

A atuação da seleção brasileira no primeiro jogo deu um susto na imprensa e na torcida.  Esperava-se mais da equipe. Tite estava com cara de Dunga, parecendo não ter soluções e nem a voz forte que se esperava. Grandes atletas, destaques em seus times, pareciam sentir o peso da camiseta amarela, como se vestissem algo que sempre sonharam nos tempos de infância pobre, mas não merecessem. Amanhã, contra a Costa Rica, certamente será diferente. Mas o susto da estreia vai persistir até começar as oitavas de final e o mata-mata à espera de um grande e decisivo desempenho. Será matar ou voltar para casa, o que ninguém quer e merece”.

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