Um silêncio perigoso.
O saudoso João Saldanha, botafoguense, cronista esportivo que chegou a técnico da Seleção Brasileira de Futebol, gostava muito de usar a frase criada por Neném Prancha – outro treinador, considerado pelo cronista Armando Nogueira como ´o filósofo do futebol´ – “se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”. A citação é oportuna para o momento por que passa o Avaí, com reconhecidos pagamentos atrasados aos seus jogadores que, em função disso, estão se negando a concentrar. E mesmo assim, ganhando os jogos. Seria a confirmação da tese defendida por Saldanha, o conhecido “João sem medo”? Não acredito, mas também não duvido.
É sabido que os jogadores têm aversão às concentrações e muitos deles não negam isso. Igualmente, não raras vezes, descobre-se que em pleno período de retiro vários conhecidos profissionais da bola, com altos salários, em clubes grandes, já fugiram dos retiros, até com confessos subornos aos seus nem tão atentos vigilantes.
O exemplo que ocorre no Avaí, no entanto, precisa ser estancado. O clube confessa a dívida e renova as promessas para quitá-la, mas exagerou na concessão de benevolências ao seu grupo profissional.
Com a negativa da concentração, aceita pela diretoria com os sorrisos criados pelos resultados positivos, mas sem uma solução para receber seus créditos, os jogadores foram – perigosamente – em frente. Agora optaram por fechar a boca e não conceder entrevistas até o jogo do próximo dia 27, contra o Goiás. Decidiram, pois, o que não têm competência para isso. Desautorizaram os que tem a responsabilidade de tomar decisões de tal porte e assumiram um posto de comando para o qual não foram escolhidos, apesar de, igualmente, serem regiamente remunerados.
Jogadores ganham – e bem – para jogar e não para falar. Logo, deveriam decidir sobre jogar ou não. Não falar com a imprensa até representa abrir mão de uma excelente oportunidade de esclarecer os fatos e ganhar apoio.
Além do mais, se é fato que a decisão da tal Lei do Silêncio foi dos atletas e aceita passivamente pela diretoria, é uma comprovação de que a liderança mudou de lado. O “manda quem pode, obedece quem precisa” deixou os gabinetes e entrou em campo. A nave azul parece estar sem comando. Espera-se, no entanto, que não perca o rumo dentro do campo.
